Há pouco mais de cem anos, um paulista chamado Cândido Dias da Silva foi morar em Porto Alegre. Junto com ele, foi uma bola. Uma bola daquele novo esporte que arrebatava cada dia mais adeptos: o foot-ball. Vieram as brincadeiras com a bola, e das brincadeiras a vontade de fundar um clube que se dedicasse ao novo esporte. E, no dia 15 de setembro de 1903, 20 jovens se reuniram no Salão Grau (restaurante de um hotel da rua XV de novembro, atual José Montaury) às 20 horas para fundar o tal clube: o Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense. Nos dias que se seguiram à reunião, outras doze pessoas assinaram a ata, totalizando as 32 assinaturas presentes na ata de fundação do clube.
De lá para cá foram cem anos de glórias e sofrimentos. Foram 33 títulos gaúchos, 4 da Copa da Brasil, 2 Brasileiros, 2 da Libertadores e 1 do Mundo, sem contar com 1 Recopa Sul-Americana e que a partir dos novos critérios do ranking da CBF, o Grêmio passou a liderá-lo. Entre 1956 e 1968, o Grêmio obteve 12 títulos gaúchos em 13, perdendo apenas em 1961. Mas, em 1991, o Grêmio caiu para a Segunda Divisão do Campeonato Brasileiro.
Mas mais do que títulos e rebaixamentos, regozijos e sofrimentos, o maior patrimônio do Grêmio é a mística. A mística do clube, das cores, da camisa. É esta mística, do Grêmio batalhador, sofredor, de alma castelhana, que não se entrega, para quem tudo é sempre mais difícil, que faz do Grêmio o grande clube que ele é. E que faz de sua torcida a mais apaixonada, a que chora, a que grita, a que sofre, a que se desespera... A que enfrenta o frio para incentivar o clube na luta contra o rebaixamento... A que mais prazer sente quando seu clube vence. Porque ser gremista não é apenas ter simpatia por um determinado clube de futebol. É ser apaixonado, é se sentir parte do clube, sofrer quando ele sofre e se alegrar quando ele vence. Porque ser gremista é ter feito "um ato de fé" (palavras de Paulo Sant'Anna) tricolor.
Esta mística cria lendas, algumas com fundo de verdade, outras não, mas que simbolizam o papel do Grêmio na vida daqueles que fizeram o "ato de fé". Conta-se, por exemplo, que Lara, "o craque imortal", morreu debaixo das traves tricolores, dando sua vida para evitar um gol contra o Grêmio. E que Osvaldo Rolla, que havia sido demitido do Grêmio naquele mesmo ano de 1961, chorou quando o time que treinava, o Cruzeiro de Porto Alegre, venceu o Grêmio nas últimas rodadas do Gauchão, impedindo o hexacampeonato tricolor (o campeonato era por pontos corridos) e interrompendo o que seria a maior seqüência de títulos gaúchos da história. Hoje, Renato Portaluppi e Danrlei dizem aos quatro ventos que jamais jogariam no rival. Porque ser gremista é, acima de tudo, ser fiel.
Hoje é o aniversário de cem anos do Grêmio. E é também o ano mais difícil de sua história. A pior campanha que já fez no Gauchão, um projeto fracassado na Libertadores e o rebaixamento muito próximo no Campeonato Brasileiro. Mas hoje é dia de lembrar não só esse ano, mas todos os cem. É dia de lembrar de Lara, do gol de André Catimba, do sangue escorrendo no rosto de De Léon, dos dribles e dos gols de Renato em Tóquio. É dia de lembrar que internacional é o Grêmio, já que o desempenho do rival em campeonatos internacionais é desprezível. Mas, antes de qualquer outra coisa, é dia de sentir a mística do Grêmio, esta força inexplicável que anima a história de glórias do tricolor.
Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense. Nada pode ser maior.
(Texto publicado originalmente em 15 de setembro de 2003)
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